31/05/2015

Análise de Conteúdo de Laurence Bardin

A construção teórica aqui descrita tem por base o livro Análise de Conteúdo, de Laurence Bardin.

Dimensão histórica da Análise de Conteúdo.

Hermenêutica
            Arte da interpretação de textos sagrados, literários
            Interpretação de:
·         Mensagens obscuras e/ou duplo sentido
·         Desvelar do que está por do discurso – simbólico e polissêmico
                       
RETÓRICA
Estudo das formas de expressão.
A propaganda

LÓGICA
Estuda o encadeamento normativo das regras e formas de raciocínios adequados.

Suécia – 1640
Pesquisa de autenticidade sobre hinos religiosos
Efeitos nefastos ou luteranos, complexidade estilística

França – 1888-1892
Pesquisa sobre expressão e tendências na linguagem
Bíblia – livro de Êxodo – classificação temática de palavras-chave

Europa – 1909-1918
Pesquisa sociológica – imigração de polacos na Europa e América
Análise de cartas, diários íntimos, relatórios oficiais e artigos de jornal


Estados Unidos
Berço da Análise de Conteúdo
Escola de Jornalismo de Colúmbia
            - estudos quantitativos de jornais
            - mensuração do grau de sensacionalismo dos artigos
            - desencadeamento de estudos de contagem e medidas
                        Tamanho dos títulos, localização na página
Primeira e Segunda Guerras Mundiais
– estudos de propaganda e de investigação política.
            Atitudes subversivas – nazistas.
            Análise de favoritismo/desfavoritismo de países.
            Analise lexical das palvras-chave.

Vultos da dimensão histórica da Análise de Conteúdo.

H. D. Lasswell
- 1915 - Análise de imprensa e de propaganda.
- 1927 – Propaganda Technique in the World war
- Political Symbol Analysis
- 1949 – The Language of Politics: Studies in Quantitative Semantics
Richard Wright
            - 1947 - Análise de valor do romance autobiográfico Back Boy.
                                   - objetivos – sexo, alimentação, amizade.
                                    - normas – moralidade, verdade, civilização.
                                   - pessoas – negros, brancos.
                        - combina análise quantitativa (estatística) e qualitativa (subjetiva).

A. L. Baldwin – 1942
            - Método de investigação da personalidade.
            - análise de contingência (co-ocorrência):
                        - associação de 2 ou + palavras ou temas.

B. Berelson 1940-1950
            - “A análise de conteúdo é uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação”


1950-1960 – Plano Epistemológico da Análise de Conteúdo
            - Etnologia, História, Psiquiatria, Psicanálise, Sociologia, Psicologia, Ciência Política
            - CONCEPÇÕES:
            A) Modelo instrumental – o significado está na veiculação da mensagem em relação às circunstâncias
            B) Modelo representacional – o significado está no conteúdo da mensagem, nos itens lexicais.

1950-1960 – Plano Metodológico da Análise de Conteúdo
            Analise qualitativa – presença ou ausência de características significantes do conteúdo
            Análise quantitativa – freqüência das características do conteúdo das mensagens

Pós-1960 – Modernidade e a Análise de Conteúdo
            - Era digital
                        - 1966 – The General Inquirer: a computer approach to content analysis in the behavioral sciences.
  • apurar frequências,
  • distribuição de unidades de registros,
  • preparação dos textos com definição precisa das unidades de codificação,
  • criação de categorias e subcategorias de análise,
  • análise automatizada das informações.
  • pesquisas sobre comunicação verbal
           

O campo da Análise de Conteúdo.

ANÁLISE DE CONTEÚDO

- é um conjunto de técnicas de análise das comunicações
- uma técnica de investigação que através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação destas comunicações (Berelson).
- Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdos de mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.


Objetivos da Análise de Conteúdo

            1 - Superação da incerteza
                        - validação da leitura com possibilidade de generalização
                        O que eu na mensagem é efetivamente o que lá está contido?
            2 – Enriquecimento da leitura
                        - exaustividade produtora de pertinência científica.


DESEJO DE RIGOR E NECESSIDADE DE DESCOBRIR

- Ir nas entrelinhas e além das aparências para VERIFICAÇÃO PRUDENTE e INTERPRETAÇÃO BRILAHNTE


FUNCÕES DA ANÁLISE DE CONTEÚDO

            1 – Heurística
                        - enriquece a tentativa exploratória.
                        - aumenta a propensão à descoberta.
            2 – Administradora da prova
                        - formulação de questões norteadoras da pesquisa:
                                   - confirmar ou refutar







DESCRIÇÃO ANALÍTICA DO MÉTODO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO

ORGANIZAÇÃO DA ANÁLISE

            - Procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens - ANALISE DOS SIGNIFICADOS
            - Regras de análise: estão descritas em 03 pólos de análise:
Pólos cronológicos: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados e interpretação.

POLO I - FASE DE PRÉ-ANÁLISE - Período de organização do material a ser investigado. Constitui na leitura flutuante dos documentos colhidos nas entrevistas e nas observações livres de cenários, sob a orientação das regras de exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência, para a constituição do corpus, que é composto por todos os documentos selecionados para análise durante o período de tempo estabelecido para a coleta de informações, como - falas de informantes-chave, relatórios, regimentos, normas e rotinas, registros, ofícios - todos observados criteriosamente pelo investigador, com total consentimento dos sujeitos da pesquisa.

REGRA DE EXAUSTIVIDADE: refere-se à deferência de todos os componentes constitutivos do corpus. BARDIN (1977) descreve essa regra, detendo-se no fato de que o ato de exaurir significa não deixar fora da pesquisa qualquer um de seus elementos, sejam quais forem as razões.

REGRA DA REPRESENTATIVIDADE: na conformidade dessa regra, o procedimento amostral da investigação é representativo ao inferir com rigor o universo de investigação. BARDIN (1977) leciona que, no caso da amostra ser uma parte representativa do universo, os resultados obtidos para a amostra serão generalizados ao todo, compreendendo que o todo tem como inferência a realidade empírica pesquisada. 
REGRA DE HOMOGENEIDADE: essa regulamentação prescreve que a documentação esteja sujeita aos critérios definidos de escolha (BARDIN, 1977) sem fugacidade. Considerando que as regras se interrelacionam, a homogeneidade pretendida decorre do direcionamento da pesquisa para o cumprimento dos critérios de seleção da amostra.

REGRA DE PERTINÊNCIA: para essa fase, a fonte documental corresponde adequadamente ao objetivo suscitado pela análise (BARDIN, 1977), ou seja, esteja concernente com o que se propõem o estudo, desvelar imagens empíricas da realidade da comunicação. 
Ressalta-se que antes da fase de exploração do o material, conforme o modelo de Bardin, há uma fase intermediária, denominada fase de preparação do material, durante a qual ocorre a reunião de todo material para tratar das informações coletadas (gravações, observações etc), com vistas à preparação formalizada dos textos. Faz-se necessário esclarecer que as observações têm um cunho enriquecedor quando da análise dos textos, considerando que estas também expressam com fidedignidade outros cenários de comunicação.

POLO II - FASE DE EXPLORAÇÃO DO MATERIAL - constitui-se a partir da construção das operações de codificação, considerando-se os recortes dos textos em unidades de registros (semânticas: temas; lingüísticas: palavras e frases), a escolha das regras de contagem e a classificação e agregação das informações em categorias simbólicas. BARDIN (1977) define codificação como a transformação, por meio de recorte, agregação e enumeração, com base em regras precisas sobre as informações textuais, representativas das características do conteúdo. Para o termo categorização, ela diz tratar-se de uma operação classificatória de elementos agrupados por uma mesma taxonomia.

POLO III - TRATAMENTO DOS RESULTADOS E INTERPRETAÇÃO - nessa fase, os resultados recebem um tratamento analítico, para que se tornem significantes e válidos (BARDIN, 1977). Em termos operacionais, as informações são organizadas em forma de categorias de análise empíricas, abstraídas de meios de comunicação e enriquecidas, muitas vezes, com observações livres dos cenários.








PLANO DE ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE

 























 














                
Outras orientações para uma nova análise
 
Utilização dos resultados de análise para fins teóricos
 
 
















            



CODIFICAÇÃO

É o tratamento dispensado ao material coletado. É o processo pelo qual ocorre transformação dos dados brutos, por meio de regras, em uma sistemática de recorte, agregação em unidades, as quais permitem a descrição exata das características pertinentes do conteúdo.

ORGANIZAÇÃO DA CODIFICAÇÃO

RECORTE – escolha das unidades
ENUMERAÇÃO – escolha das regras de contagem
CLASSIFICAÇÃO e AGREGAÇÃO – escolha das categorias
Como recortar o texto – OBSERVAR OS OBJETIVOS DA PESQUISA


UNIDADE DE REGISTRO
É a unidade de significação a codificar e corresponde ao segmento do conteúdo da mensagem.

UNIDADES FORMAIS DE REGISTRO
            - palavra – termo significativo.
- tema – uma afirmação acerca de um assunto – sentido
            - estudos de motivação, atitudes, crenças, valores, tendências...
- objeto ou referente – divisões de um hospital.
- personagem – ator social (atributos pessoais – idade, traços do caráter, profissional).
- acontecimento – relatos recortados em unidades de ação (artigos de jornais/revistas, filmes).
- documento – unidade de gênero documental.


INTERCESSÃO DA UNIDADE DE REGISTRO

UNIDADES PERCEPTÍVEIS – palavra, frase, documento material, personagem físico.
UNIDADES SEMÂNTICAS – temas, acontecimentos, indivíduos.
UNIDADE DE CONTEXTO ou CATEGORIAL
            - Mais ampla que a unidade de registro e visa compreender a significação dos itens obtidos (presente/ausente) através da racionalização de números e percentagem que conduz ao MÉTODO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE.
CATEGORIAS DE ANÁLISE – são rubricas (categorias) que permitem a classificação dos elementos de significação da mensagem. É um método taxonômico ordenador.


REGRAS DE ENUMERAÇÃO
É o modo de contagem dos elementos das unidades registradas pra verificação de presença ou ausência.

Freqüência = medida de aparição da unidade de registro.

Intensidade = variações semânticas ou formais de uma unidade de registro.

Direção = descreve os pólos direcionais (favorável/desfavorável, positivo/negativo, sadio/doente).

Ordem = aparição da unidade de registro seqüenciada.

Co-ocorrência = presença simultânea de duas ou mais unidades de registros numa unidade de contexto.

INTENCIONALIDADE INFERENCIAL DA ANÁLISE DE CONTEÚDO

            - Inferência – operação lógica pela qual se admite uma proposição em virtude da sua ligação com outras proposições já aceitas como verdadeiras.
                                   - deduzir de maneira lógica a mensagens emitidas.
            - Analista de conteúdo – arqueólogo, desbravador, detetive.
                                   - trabalha com vestígios; índices.

Como problematizar por meio de inferências:
            O que conduziu a este enunciado? Causas e antecedentes da mensagem.
            Quais as conseqüências do enunciado? Possíveis efeitos.

CATEGORIZAÇÃO

É uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, sequencialmente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente definidos.
Buscar o que os elementos têm em comum.

Categorias = rubricas = classes

Critérios de categorização
            - semântico – temas, frases.
            - sintático – verbos, adjetivos.
            - lexical – categorias de palavras segundo o seu sentido.
            - expressivo – categorias que classificam perturbações da linguagem.

ETAPAS DA CATEGORIZAÇÃO

INVENTÁRIO – isolar os elementos.
CLASSIFICAÇÃO – repetir os elementos de forma organizada.

BOAS CATEGORIAS

EXCLUSÃO MÚTUA – o elemento existe apenas em uma divisão, isto é, numa categoria.
HOMOGENEIDADE – princípio único de governabilidade organizativa.
PERTINÊNCIApertinens = diz respeito a, correspondência.
OBJETIVIDADE e FIDELIDADE – constituição de uma mesma grelha de codificação, mesmo quando submetidas a diferentes unidades de análises.


TRATAMENTO INFORMÁTICO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO

Todos os softwares para pesquisa qualitativa (hiperresearch, ethnograph).


AS TÉCNICAS

ANÁLISE CATEGORIAL

São operações de divisão do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos.


ANÁLISE DE AVALIAÇÃO

São mensurações de atitudes de um locutor quanto aos objetos por ele falado.
As atitudes são caracterizadas pela intensidade e direção.

Evaluative Assertion Analysis (EAA) = Análise de Asserção Avaliativa de Osgood (1959).
Semelhante à análise de conteúdo temática – divisão do texto em unidades de significação.

Fases da técnica de análise de avaliação

1 - Os componentes dos enunciados avaliativos
            - Objetos de Atitude – OA - pessoas, grupos, idéias, coisas, acontecimentos ...
            - Termos Avaliativos com Significação Comum (SC) – devem ser anotados diferentemente, pois qualificam os objetos da atitude (predicados, adjetivos, verbos).

2 – PRIMEIRA ETAPA
            - Identificação e extração dos Objetos de Atitude (OA):
                        - leitura, referenciamento e recenseamento dos objetos de atitude.
3 – SEGUNDA ETAPA
            - Normalização dos enunciados.
                        - edição dos textos com vista à preparação da codificação.
4 – TERCEIRA ETAPA
            - codificação.


ANÁLISE DA ENUNCIAÇÃO

Apóia-se numa concepção da comunicação como processo e não como dado.
Usa a entrevista não-diretiva, isto é, centrada na pessoa, constituindo um processo empático entre pesquisador-entrevistado, todavia com pré-formação mínima (direcionalidade para os objetivos da pesquisa). Trata-se de:
  • Autonomia
  • Unidade de coerência
  • Originalidade
  • Singularidade
  • Discurso dinâmico


BIBLIOGRAFIA

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3.ed. Lisboa: Edições 70, 2004.

CHIZZOTI, Antonio. Pesquisas em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1998.

Conselho de Organizações Internacionais de Ciências Médicas. Diretrizes éticas internacionais para pesquisa biomédica em seres humanos. São Paulo: Loyola, 2004.

LEININGER, Madeleine M. Qualitative research methods in nursing. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1985.

MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: HUCITEC; Rio de Janeiro; ABRASCO, 1992.

RODRIGUES, Maria Socorro Pereira; Leopardi, Maria Tereza. O método de análise de conteúdo: uma versão para enfermeiros. Fortaleza: FCPC, 1999.


TURATO, E. R. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa. Petrópolis: Vozes, 2003.