A construção
teórica aqui descrita tem por base o livro Análise
de Conteúdo, de Laurence Bardin.
Dimensão histórica da Análise de Conteúdo.
Hermenêutica
Arte da
interpretação de textos sagrados, literários
Interpretação
de:
·
Mensagens obscuras e/ou duplo sentido
·
Desvelar do que está por do discurso – simbólico
e polissêmico
RETÓRICA
Estudo das formas de expressão.
A propaganda
LÓGICA
Estuda o encadeamento normativo das regras e formas de
raciocínios adequados.
Suécia – 1640
Pesquisa de autenticidade sobre hinos religiosos
Efeitos nefastos ou luteranos,
complexidade estilística
França – 1888-1892
Pesquisa sobre expressão e tendências na linguagem
Bíblia – livro de Êxodo – classificação temática de
palavras-chave
Europa – 1909-1918
Pesquisa sociológica – imigração de polacos na Europa e
América
Análise de cartas, diários íntimos, relatórios oficiais e
artigos de jornal
Estados Unidos
Berço da Análise de Conteúdo
Escola de Jornalismo
de Colúmbia
- estudos
quantitativos de jornais
-
mensuração do grau de sensacionalismo dos artigos
- desencadeamento
de estudos de contagem e medidas
Tamanho
dos títulos, localização na página
Primeira e Segunda
Guerras Mundiais
– estudos de propaganda e de
investigação política.
Atitudes
subversivas – nazistas.
Análise
de favoritismo/desfavoritismo de países.
Analise
lexical das palvras-chave.
Vultos da dimensão histórica da Análise de Conteúdo.
H. D. Lasswell
- 1915 - Análise de imprensa e de
propaganda.
- 1927 – Propaganda Technique in the World war
- Political Symbol Analysis
- 1949 – The Language of Politics: Studies in
Quantitative Semantics
Richard Wright
- 1947 -
Análise de valor do romance autobiográfico Back Boy.
-
objetivos – sexo, alimentação,
amizade.
-
normas – moralidade, verdade,
civilização.
- pessoas – negros, brancos.
-
combina análise quantitativa (estatística) e qualitativa (subjetiva).
A. L. Baldwin – 1942
- Método de
investigação da personalidade.
- análise
de contingência (co-ocorrência):
-
associação de 2 ou + palavras ou temas.
B. Berelson 1940-1950
- “A análise
de conteúdo é uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição
objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação”
1950-1960 – Plano
Epistemológico da Análise de Conteúdo
-
Etnologia, História, Psiquiatria, Psicanálise, Sociologia, Psicologia, Ciência
Política
-
CONCEPÇÕES:
A)
Modelo instrumental – o significado está na veiculação da mensagem em relação
às circunstâncias
B)
Modelo representacional – o significado está no conteúdo da mensagem, nos itens
lexicais.
1950-1960 – Plano
Metodológico da Análise de Conteúdo
Analise qualitativa – presença ou
ausência de características significantes do conteúdo
Análise quantitativa – freqüência das
características do conteúdo das mensagens
Pós-1960 –
Modernidade e a Análise de Conteúdo
- Era digital
- 1966 – The General Inquirer: a computer approach to
content analysis in the behavioral sciences.
- apurar frequências,
- distribuição de unidades de registros,
- preparação dos textos com definição precisa das unidades de codificação,
- criação de categorias e subcategorias de análise,
- análise automatizada das informações.
- pesquisas sobre comunicação verbal
O campo da Análise de Conteúdo.
ANÁLISE DE CONTEÚDO
- é um conjunto de técnicas de
análise das comunicações
- uma técnica de investigação que
através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo
manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação destas
comunicações (Berelson).
- Um conjunto de técnicas de
análise das comunicações, visando obter, por procedimentos sistemáticos e
objetivos de descrição de conteúdos de mensagens, indicadores (quantitativos ou
não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Objetivos da Análise
de Conteúdo
1 - Superação da incerteza
-
validação da leitura com possibilidade de generalização
O
que eu na mensagem é efetivamente o que lá está contido?
2 – Enriquecimento da leitura
-
exaustividade produtora de pertinência científica.
DESEJO DE RIGOR E
NECESSIDADE DE DESCOBRIR
- Ir nas entrelinhas e além das
aparências para VERIFICAÇÃO PRUDENTE e INTERPRETAÇÃO BRILAHNTE
FUNCÕES DA ANÁLISE DE
CONTEÚDO
1 – Heurística
-
enriquece a tentativa exploratória.
-
aumenta a propensão à descoberta.
2 – Administradora da prova
-
formulação de questões norteadoras da pesquisa:
-
confirmar ou refutar
DESCRIÇÃO ANALÍTICA DO MÉTODO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO
ORGANIZAÇÃO DA ANÁLISE
-
Procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens
- ANALISE DOS SIGNIFICADOS
- Regras de
análise: estão descritas em 03 pólos de análise:
Pólos cronológicos: pré-análise, exploração do
material e tratamento dos resultados e interpretação.
POLO I -
FASE DE PRÉ-ANÁLISE - Período de
organização do material a ser investigado. Constitui na leitura flutuante dos
documentos colhidos nas entrevistas e nas observações livres de cenários, sob a
orientação das regras de exaustividade, representatividade, homogeneidade e
pertinência, para a constituição do corpus,
que é composto por todos os documentos selecionados para análise durante o
período de tempo estabelecido para a coleta de informações, como - falas de
informantes-chave, relatórios, regimentos, normas e rotinas, registros, ofícios
- todos observados criteriosamente pelo investigador, com total consentimento
dos sujeitos da pesquisa.
REGRA DE
EXAUSTIVIDADE: refere-se à deferência de
todos os componentes constitutivos do corpus.
BARDIN (1977) descreve essa regra, detendo-se no fato de que o ato de exaurir
significa não deixar fora da pesquisa qualquer um de seus elementos, sejam
quais forem as razões.
REGRA DA
REPRESENTATIVIDADE: na conformidade dessa
regra, o procedimento amostral da investigação é representativo ao inferir com
rigor o universo de investigação. BARDIN (1977) leciona que, no caso da amostra
ser uma parte representativa do universo, os
resultados obtidos para a amostra serão generalizados ao todo,
compreendendo que o todo tem como inferência a realidade empírica
pesquisada.
REGRA DE HOMOGENEIDADE: essa regulamentação
prescreve que a documentação esteja sujeita aos critérios definidos de escolha
(BARDIN, 1977) sem fugacidade. Considerando que as regras se interrelacionam, a
homogeneidade pretendida decorre do direcionamento da pesquisa para o
cumprimento dos critérios de seleção da amostra.
REGRA DE
PERTINÊNCIA: para essa fase, a fonte
documental corresponde adequadamente ao objetivo suscitado pela análise
(BARDIN, 1977), ou seja, esteja concernente com o que se propõem o estudo,
desvelar imagens empíricas da realidade da comunicação.
Ressalta-se que antes da fase de exploração do
o material, conforme o modelo de Bardin, há uma fase intermediária, denominada fase de preparação do material, durante
a qual ocorre a reunião de todo material para tratar das informações coletadas
(gravações, observações etc), com vistas à preparação formalizada dos textos.
Faz-se necessário esclarecer que as observações têm um cunho enriquecedor
quando da análise dos textos, considerando que estas também expressam com
fidedignidade outros cenários de comunicação.
POLO II
- FASE DE EXPLORAÇÃO DO MATERIAL -
constitui-se a partir da construção das operações de codificação,
considerando-se os recortes dos textos em unidades de registros (semânticas:
temas; lingüísticas: palavras e frases), a escolha das regras de contagem e a
classificação e agregação das informações em categorias simbólicas. BARDIN
(1977) define codificação como a transformação, por meio de recorte, agregação
e enumeração, com base em regras precisas sobre as informações textuais,
representativas das características do conteúdo. Para o termo categorização,
ela diz tratar-se de uma operação classificatória de elementos agrupados por
uma mesma taxonomia.
POLO III
- TRATAMENTO DOS RESULTADOS E INTERPRETAÇÃO
- nessa fase, os resultados recebem um tratamento analítico, para que se tornem
significantes e válidos (BARDIN, 1977). Em termos operacionais, as informações
são organizadas em forma de categorias de análise empíricas, abstraídas de
meios de comunicação e enriquecidas, muitas vezes, com observações livres dos
cenários.
PLANO DE ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE
|
|
CODIFICAÇÃO
É o tratamento dispensado ao
material coletado. É o processo pelo qual ocorre transformação dos dados
brutos, por meio de regras, em uma sistemática de recorte, agregação em
unidades, as quais permitem a descrição exata das características pertinentes
do conteúdo.
ORGANIZAÇÃO DA
CODIFICAÇÃO
RECORTE – escolha
das unidades
ENUMERAÇÃO –
escolha das regras de contagem
CLASSIFICAÇÃO e
AGREGAÇÃO – escolha das categorias
Como recortar o texto – OBSERVAR OS OBJETIVOS DA PESQUISA
UNIDADE DE REGISTRO
É a unidade de significação a codificar e corresponde ao
segmento do conteúdo da mensagem.
UNIDADES FORMAIS DE
REGISTRO
- palavra – termo significativo.
- tema – uma afirmação acerca de um assunto – sentido
-
estudos de motivação, atitudes, crenças, valores, tendências...
- objeto ou referente – divisões de um hospital.
- personagem –
ator social (atributos pessoais – idade, traços do caráter, profissional).
- acontecimento – relatos recortados em
unidades de ação (artigos de jornais/revistas, filmes).
- documento – unidade de gênero
documental.
INTERCESSÃO DA UNIDADE DE REGISTRO
UNIDADES PERCEPTÍVEIS – palavra, frase, documento material,
personagem físico.
UNIDADES SEMÂNTICAS – temas, acontecimentos, indivíduos.
UNIDADE DE CONTEXTO
ou CATEGORIAL
- Mais
ampla que a unidade de registro e visa compreender a significação dos itens
obtidos (presente/ausente) através da racionalização de números e percentagem
que conduz ao MÉTODO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE.
CATEGORIAS DE ANÁLISE
– são rubricas (categorias) que permitem a classificação dos elementos de
significação da mensagem. É um método taxonômico ordenador.
REGRAS DE ENUMERAÇÃO
É o modo de contagem dos elementos das unidades registradas
pra verificação de presença ou ausência.
Freqüência =
medida de aparição da unidade de registro.
Intensidade =
variações semânticas ou formais de uma unidade de registro.
Direção = descreve
os pólos direcionais (favorável/desfavorável, positivo/negativo, sadio/doente).
Ordem = aparição
da unidade de registro seqüenciada.
Co-ocorrência =
presença simultânea de duas ou mais unidades de registros numa unidade de
contexto.
INTENCIONALIDADE INFERENCIAL DA ANÁLISE DE CONTEÚDO
- Inferência – operação lógica pela qual
se admite uma proposição em virtude da sua ligação com outras proposições já
aceitas como verdadeiras.
-
deduzir de maneira lógica a mensagens emitidas.
- Analista
de conteúdo – arqueólogo, desbravador, detetive.
-
trabalha com vestígios; índices.
Como problematizar por meio de inferências:
O que
conduziu a este enunciado? Causas e antecedentes da mensagem.
Quais as
conseqüências do enunciado? Possíveis efeitos.
CATEGORIZAÇÃO
É uma operação de classificação de elementos constitutivos
de um conjunto, por diferenciação e, sequencialmente, por reagrupamento segundo
o gênero (analogia), com critérios previamente definidos.
Buscar o que os elementos têm em comum.
Categorias =
rubricas = classes
Critérios de
categorização
- semântico – temas, frases.
- sintático – verbos, adjetivos.
- lexical – categorias de palavras
segundo o seu sentido.
- expressivo – categorias que classificam
perturbações da linguagem.
ETAPAS DA
CATEGORIZAÇÃO
INVENTÁRIO –
isolar os elementos.
CLASSIFICAÇÃO –
repetir os elementos de forma organizada.
BOAS CATEGORIAS
EXCLUSÃO MÚTUA –
o elemento existe apenas em uma divisão, isto é, numa categoria.
HOMOGENEIDADE –
princípio único de governabilidade organizativa.
PERTINÊNCIA – pertinens = diz respeito a,
correspondência.
OBJETIVIDADE e
FIDELIDADE – constituição de uma mesma grelha de codificação, mesmo quando
submetidas a diferentes unidades de análises.
TRATAMENTO INFORMÁTICO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO
Todos os softwares para pesquisa qualitativa (hiperresearch,
ethnograph).
AS TÉCNICAS
ANÁLISE CATEGORIAL
São operações de divisão do texto em unidades, em categorias
segundo reagrupamentos analógicos.
ANÁLISE DE AVALIAÇÃO
São mensurações de atitudes de um locutor quanto aos objetos
por ele falado.
As atitudes são caracterizadas pela intensidade e direção.
Evaluative Assertion Analysis (EAA) = Análise de Asserção
Avaliativa de Osgood (1959).
Semelhante à análise de conteúdo temática – divisão do texto
em unidades de significação.
Fases da técnica de
análise de avaliação
1 - Os componentes dos enunciados avaliativos
- Objetos de Atitude – OA - pessoas,
grupos, idéias, coisas, acontecimentos ...
- Termos Avaliativos com Significação Comum
(SC) – devem ser anotados diferentemente, pois qualificam os objetos da
atitude (predicados, adjetivos, verbos).
2 – PRIMEIRA ETAPA
-
Identificação e extração dos Objetos de Atitude (OA):
-
leitura, referenciamento e recenseamento dos objetos de atitude.
3 – SEGUNDA ETAPA
-
Normalização dos enunciados.
-
edição dos textos com vista à preparação da codificação.
4 – TERCEIRA ETAPA
-
codificação.
ANÁLISE DA ENUNCIAÇÃO
Apóia-se numa concepção da
comunicação como processo e não como dado.
Usa a entrevista não-diretiva,
isto é, centrada na pessoa, constituindo um processo empático entre
pesquisador-entrevistado, todavia com pré-formação mínima (direcionalidade para
os objetivos da pesquisa). Trata-se de:
- Autonomia
- Unidade de coerência
- Originalidade
- Singularidade
- Discurso dinâmico
BIBLIOGRAFIA
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3.ed. Lisboa:
Edições 70, 2004.
CHIZZOTI, Antonio. Pesquisas em ciências humanas e sociais.
São Paulo: Cortez, 1998.
Conselho de Organizações
Internacionais de Ciências Médicas. Diretrizes
éticas internacionais para pesquisa biomédica em seres humanos. São Paulo: Loyola, 2004.
LEININGER, Madeleine M. Qualitative research methods in nursing. Philadelphia: W.B.
Saunders Company, 1985.
MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa
qualitativa em saúde.
São Paulo : HUCITEC; Rio de Janeiro;
ABRASCO, 1992.
RODRIGUES, Maria Socorro Pereira;
Leopardi, Maria Tereza. O método de
análise de conteúdo: uma versão para enfermeiros. Fortaleza: FCPC, 1999.
TURATO, E. R. Tratado da metodologia da pesquisa
clínico-qualitativa. Petrópolis: Vozes, 2003.