27/08/2015

PIERRE BOURDIEU E O ESTRUTURALISMO

Política e Trabalho 15 - Setembro / 1999 - pp. 193-204

Mª Valéria Vasconcelos Rezende (1)


INTRODUÇÃO
O título que demos a este artigo já coloca por si mesmo uma dificuldade, pois propõe-se confrontar dois termos muito heterogêneos. Enquanto Pierre Bourdieu é um autor cuja obra, embora abundante, é muito característica e, necessariamente, delimitada, o termo estruturalismo refere-se a algo abstrato, não é um termo unívoco e recobre, a depender de quem o use, uma ampla gama de posições teóricas bastante diferentes entre si. Cabe, entretanto, o estudo da relação entre ambos dada a importância que tem a noção de estrutura no pensamento de Bourdieu, por um lado, e, por outro lado, a importância que teve a sua crítica ao estruturalismo, principalmente ao estruturalismo antropológico de Lévi-Strauss, na elaboração de um dos eixos fundamentais de seu pensamento, sua teoria da prática.
O próprio termo "estrutura" reveste-se de sentidos muito diferentes, não somente em seus usos na linguagem comum, tornados hoje muito freqüentes, como também em seu uso científico e não é fácil defini-lo. Antes, pois, de empreender a tarefa de confrontar o pensamento de Bourdieu com o estruturalismo, ou estruturalismos, é indispensável, ainda que sumariamente, entendermo-nos sobre o significado ou significados dos termos estrutura e estruturalismo aos quais nos referiremos, o que faremos tomando como base textos de três autores, Jean Piaget (1979), Wolfgang Wieser (1972) e Henri Lefebvre (1963).
ESTRUTURAS E ESTRUTURALISMOS
Wolfgang Wieser (1972)(2) considera a questão da estrutura como "um espaço onde se encontram vários ramos da Ciência" do século XX e assim a define:
"por estrutura se deve entender uma rede de relações entre elementos ou processos elementares. Donde sempre que se reúnem elementos num todo coerente, aparecerão estruturas cuja construção segue determinadas leis. À totalidade na qual descobrimos e pesquisamos estruturas chamamos "sistema". Há, pois, sistemas inorgânicos, orgânicos, sociológicos e técnicos."
Wieser sugere que a consideração da estrutura (que, para ele, é o mesmo que "forma") torna-se central na medida em que, frente à análise newtoniana que busca a compreensão de cada elemento em si e busca reduzir a complexidade do mundo a um número definido de elementos encadeados por relações causais lineares, coloca-se a seguinte pergunta:
[fim da página 193]
" A análise de um sistema até seus elementos e processos elementares não descuida de uma particularidade essencial do sistema e, mais ainda, não a destrói irrevogavelmente no momento da análise? Os elementos se combinam de maneira precisa com outros elementos em unidades superiores, e quem poderia dizer que um elemento não se torna definitivamente modificado no próprio momento em que é retirado de sua relação com o todo?" (1972: 12)
Ao nível de abstração em que Wieser coloca a questão da estrutura, ela não parece oferecer grandes dificuldades. No entanto, quando se vai ao exame de cada caso, em cada ramo científico, do uso efetivo do conceito de estrutura, as dificuldades se multiplicam. Aí podemos encontrar desde a clareza e quase unanimidade do conceito aplicado à matemática ou à técnica até as acirradas polêmicas produzidas por seu uso nas Ciências Sociais.
Henri Lefebvre (1963) diz mesmo que o conceito de estrutura se torna cada vez mais obscuro na medida em que seu uso se expande nos vários ramos do conhecimento, mas acredita que há três acepções principais que emergem da confusão:
  1. a estrutura é imanente ao real, aquilo que, no real, é inteligível, é sua essência ou, podemos dizer, uma concepção ontológica da estrutura.
  2. a estrutura é um modelo, construído pelo teórico, antecipando as relações permanentes entre os elementos do real que permite compreender o real em si mesmo muito complexo ou, diríamos, uma concepção mais metodológica da estrutura.
  3. a estrutura é um equilíbrio precário entre múltiplas hierarquias que estão em constante movimento e, portanto, é um equilíbrio que se tem que refazer continuamente, num processo de auto-regulação - Wieser diria de homeostase (1972) - isto é, uma concepção dialética da estrutura. No âmbito das ciências sociais, as estruturas, enquanto estabilidade, reveladas pela análise estrutural propriamente dita, existem apenas precariamente e estão, de fato, sempre em vias de estruturação ou desestruturação - ou em vias de transformação como diria Piaget (1979) - que a análise dialética é que pode revelar.
É importante notar que, segundo o que está implícito no texto de Lefebvre, essas três acepções não são necessariamente excludentes e Marx, por exemplo, se teria servido de todas as três na sua análise do capitalismo.
Lefebvre considera importante distinguir o estruturalismo prático do estruturalismo como ideologia ou como filosofia que implica uma ontologia e uma antropologia. Tal filosofia em sua forma extrema, segundo Lefebvre, reduz o homem a um intelecto essencialmente classificador e combinador, criador de formas, estruturas e sistemas, onde o que importa é a sintaxe e onde os conteúdos, isto é, a complexidade concreta do mundo, do homem e de sua práxis, o individual e grande parte da vida social - em resumo, a história - não são mais do que resíduos irracionais que só aparecem nos interstícios das estruturas. Tal filosofia seria, para Lefebvre, a ideologia da tecnocracia.
Jean Piaget (1979), embora reconhecendo também a dificuldade em definir estrutura e estruturalismo, trata de comparar os diversos sentidos que tomou o termo estruturalismo e de buscar entre eles o denominador comum. Crê que é [fim da página 194] possível chegar-se a uma síntese desde que se distinguam dois problemas: o problema "do ideal positivo que recobre a noção de estrutura nas conquistas ou esperanças das diversas variedades de estruturalismo, e o das intenções críticas que acompanharam o nascimento e o desenvolvimento de cada uma delas, em oposição com as tendências reinantes nas diferentes disciplinas" (1979: 07-08). Levando em conta essa distinção, Piaget assinala que há um "ideal comum de inteligibilidade que alcançam ou investigam todos os estruturalistas" (1979: 07) enquanto que as intenções críticas que inspiram o estruturalismo em cada uma de suas vertentes ou em cada campo científico são "infinitamente variáveis" de tal modo que "se se procura definir o estruturalismo em oposição a outras atitudes (...) não se encontrará senão diversidade e contradições" (1979: 07-08). Assim, segundo este autor, o que se pode encontrar de efetivamente comum em todos os estruturalismos, que os faz merecer o mesmo nome, é a esperança de atingir uma inteligibilidade intrínseca às estruturas que, de certo modo, se bastariam a si próprias, podendo ser apreendidas sem o recurso a elementos estranhos à sua natureza.
Por outro lado, Piaget aponta também como comum a todos os estruturalismos o fato de terem atingido efetivamente certas estruturas que apresentam alguns caracteres gerais e aparentemente necessários a todas elas, que ele assim resume:
  • "uma estrutura é um sistema de transformações que comporta leis enquanto sistema (por oposição às propriedades dos elementos) e que se conserva ou se enriquece pelo próprio jogo de suas transformações, sem que estas conduzam para fora de suas fronteiras ou façam apelo a elementos exteriores" (1979:08).
  • portanto, "uma estrutura compreende os caracteres de totalidade, de transformação e de auto-regulação" (1979:08).
  • a característica de totalidade consiste no fato de que uma estrutura se opõe a um simples agregado de elementos independentes, na medida em que seus elementos se subordinam às leis características do sistema a que pertencem, leis de composição que não são simples associações cumulativas e que dão à totalidade da estrutura propriedades outras que as propriedades de seus elementos tomados isoladamente. Piaget faz notar, entretanto, que mesmo um acordo - que ele considera o único existente entre todos os estruturalistas - sobre este ponto não elimina, pelo contrário, suscita, a questão que ele considera como o problema central de todos os estruturalismos, em torno do qual as opiniões mais divergem: "são as totalidades por composição sempre compostas, mas como ou por quem, ou estiveram antes de tudo (e estão sempre? ) em vias de composição? Em outras palavras, comportam as estruturas uma formação ou não conhecem senão uma pré-formação mais ou menos eterna?" (1979:11). Em outras palavras, são as estruturas formas intemporais, pré-formadas, dadas a priori, essências transcendentais ao modo das idéias platônicas, ou pelo contrário, comportam uma gênese, estão em permanente formação? Parece-nos que se este problema é central para todos os tipos de estruturalismo, mais agudo se torna ele quando se trata do estruturalismo nas ciências sociais.
  • a estrutura é necessariamente um sistema de transformações - já que a totalidades estruturadas dependem de suas leis de composição, sendo [fim da página 195] assim"estruturantes por natureza" - contendo uma constante e simultânea dualidade ou bipolaridade entre sua propriedade estruturada e sua propriedade estruturante. Segundo Piaget, a consideração dessa característica da estrutura é que diferencia os estruturalismos de um formalismo qualquer.
  • a auto-regulação significa que "as transformações inerentes à estrutura não conduzem para fora de suas fronteiras e não engendram senão elementos que pertencem sempre à estrutura e que conservam suas leis" (1979:15) o que implica num certo fechamento e na conservação da estrutura. Tal fechamento, no entanto, não significa que uma estrutura não possa ser um elemento ou uma subestrutura de uma estrutura mais ampla, significa apenas que, nesse caso, as leis da subestrutura não são anuladas, mas conservadas e que sua integração na estrutura maior é-lhe um enriquecimento. Essa característica de conservação das fronteiras, de estabilidade da estrutura apesar da característica de transformação que implica na constante construção de elementos novos, só é possível pela propriedade de auto-regulação da estrutura.
  • uma vez descoberta, uma estrutura deve ser passível de formalização que é, porém, obra do teórico, havendo assim diferentes graus de formalização que dependem das decisões do teórico. Por outro lado, a estrutura existe por si mesma, independentemente do teórico, e seu modo de existência tem que ser determinado em cada caso, conforme o domínio particular que se pesquisa, sendo portanto necessário distinguir a estrutura enquanto propriedade do real da estrutura enquanto modelo teórico.
BOURDIEU, CRÍTICO DOS ESTRUTURALISMOS
J. Loesberg (1993) afirma que Bourdieu emprega a maior parte de sua teoria na crítica ao estruturalismo. Uma vista panorâmica de sua obra realmente pode levar-nos a concordar com essa afirmação: um de seus livros mais importantes, Le Sens Pratique (1980), secundado por outros trechos de sua abundante obra, parece ser uma longa discussão e refutação do estruturalismo antropológico de Lévi-Strauss e seus seguidores, ao mesmo tempo em que narra uma peleja real ocorrida na prática do próprio Bourdieu contra os limites desse estruturalismo do qual fora, até um certo momento, um seguidor "feliz"; em seus vários textos referentes às questão da língua e da fala e à sociologia dos sistemas simbólicos, pontua sua exposição com referências críticas ao estruturalismo lingüístico de Saussure e Chomsky e a todos aqueles que se submetem à "dominação exercida pela disciplina soberana" (Bourdieu, 1996 b: 18) generalizando para o conjunto dos produtos simbólicos os procedimentos utilizados pela linguística estrutural.
***
Em Le Sens Pratique (Bourdieu, 1980), obra na qual desenvolve mais detalhadamente a sua teoria da prática, Bourdieu o faz justamente a partir de sua crítica, baseada na sua experiência pessoal de pesquisa feita com um ponto de partida estruturalista, ao estruturalismo antropológico que era a "moda" [fim da página 196] teórica de seu tempo. Bourdieu explica mesmo a razão de seu entusiasmo "metacientífico", como diz, pela ciência social estruturalista: num contexto (final dos anos 50) fortemente marcado pela questão do racismo, a antropologia estrutural de Lévi-Strauss trazia à luz uma "linguagem", uma lógica e uma coerência sofisticadas e complexas, ou seja, uma "razão", inerentes à cultura e às práticas sociais (antes aparentemente incoerentes e sem sentido) dos povos ditos primitivos, que surgia como um golpe fatal contra o etnocentrismo e o racismo:
"A minúcia e a respeitosa paciência com que Claude Lévi-Strauss, em seu seminário do Collège de France, decompunha e recompunha as sequências à primeira vista aparentemente desprovidas de sentido daquelas narrativas não poderia deixar de aparecer como uma realização exemplar de uma espécie de humanismo científico" (1980: 09) (3).
Com um projeto de pesquisa estruturalista, Bourdieu abordou então o estudo da cultura e principalmente dos rituais kabylas (4). Colecionando detalhe por detalhe (símbolos e atos) disponível da cultura kabyla, através de fichas que lhe permitiam facilmente estabelecer as relações de oposição/exclusão ou de afinidade, co-ocorrência ou equivalência entre eles, busca desenhar pouco a pouco a rede de relações que compõem o todo e revelar a coerência lógica a elas subjacente.
Sendo muito custoso realizar tal tarefa para com a totalidade da cultura kabyla, Bourdieu limitou-se inicialmente a fazê-lo com relação ao espaço interno da casa, considerado como um microcosmo, ao mesmo tempo completo e bem delimitado. Através desse trabalho descobriu, no interior da casa kabyla e em suas relações com o mundo exterior, de fato, como previa a proposta metodológica de Lévi-Strauss, uma ordenação lógica das coisas e das práticas baseada em oposições e homologias perfeitamente ordenadas e coerentes, que ele considera "quase miraculosa", já que produzida sem nenhuma intenção ordenadora consciente.
Ter encontrado, como prometia a antropologia estruturalista de Lévi-Strauss, essa intrincada e surpreendente, quase miraculosa, ordem lógica da casa kabyla e das práticas e movimentos que ali se realizam foi, porém, no dizer do próprio Bourdieu, seu último trabalho de "estruturalista feliz" (Bourdieu 1980: 22). Impulsionado pelo sucesso desse empreendimento, relata o autor, prosseguiu tratando de submeter ao mesmo tratamento metodológico todos os demais dados que ele mesmo ou outros observadores fidedignos haviam recolhido sobre a sociedade e a cultura kabyla, certo de poder revelar assim a estrita lógica subjacente a todas as suas práticas e símbolos. Ao ampliar, porém, seu campo de análise, as dificuldades começaram a impor-se desde logo: apesar de um exaustivo trabalho de classificação e tentativa de estabelecer relações precisas e coerentes de homologia ou oposição entre todos os elementos conhecidos da cultura kabyla, formalizando-os através de gráficos e quadros [fim da página 197] sinóticos, a tarefa mostrava-se impossível por deparar-se freqüentemente com incoerências e contradições, irredutíveis a qualquer tentativa de formalização, que desautorizavam a convicção de que havia uma única lógica subjacente, perfeitamente "racional", que se expressaria em todas as práticas sociais e produtos simbólicos de uma mesma sociedade. Bourdieu confessa que somente depois de muito resistir e tentar é que finalmente se rendeu à evidência que sua própria pesquisa lhe trazia e abandonou então a esperança de construir, com os elementos reais da prática social, sistemas rigidamente lógicos e passou a assumir, como dado a ser explicado, a incoerência e a contradição como tal presentes nessas práticas, a questionar principalmente as teses antropológicas subjacentes às convicções de Lévi-Strauss e seus seguidores, e a formular críticas e alternativas a elas que dariam origem à sua "teoria da prática".
Bourdieu conclui então que, desde que não há coerência perfeita nas práticas culturais, não há lógica anterior, inscrita na natureza... ou no "espírito humano" como diria Lévi-Strauss (1958: 91). A lógica aparente que o pesquisador estruturalista encontra é uma construção do observador que vê uma determinada realidade social e seus diversos sistemas de "linguagem" de fora da prática e de fora do tempo, e por isso ela é real só até certo ponto, grosso modo. Os atores sociais que agem, aparentemente, segundo ela não tem nenhum "compromisso" com essa lógica... eles não são dirigidos por essa lógica, eles a produzem sem nenhuma intenção de fazê-lo e a reproduzem sem nenhuma intenção de conservá-la. Essa não é a lógica que de fato, originariamente, preside as práticas; pelo contrário, ela resulta das práticas e só uma vez estabelecida pela prática repetida é que aparece como constante.
A situação, as técnicas e instrumentos de objetivação do observador, (registros, diagramas, sinópticos...) necessariamente fora da prática observada, é que permitem perceber como um só conjunto, regido por uma só lógica, num mesmo tempo e espaço, práticas ou elementos da prática que, na realidade, se desenrolam em momentos e espaços diferentes. A aparência de que as práticas sociais seguem, ou são a aplicação prática de um modelo lógico anterior ou externo a essas práticas, vem da repetição ou da aplicação por milhares de anos e em diferentes domínios dos mesmos esquemas de percepção e resposta ativa.
Assim, para Bourdieu, as regularidades e coerências encontradas pelo pesquisador - uma estrutura, portanto, das práticas sociais e dos sistemas simbólicos - não são falsas, elas existem mas ele explica sua gênese servindo-se do conceito de habitus. Tudo se passaria como se as diversas práticas sociais se estabelecessem à maneira pela qual se estabelecem os caminhos num determinado território (5): o próprio fato de alguém percorrer uma extensão qualquer de campo deixa traços que o induzirão a tomar o mesmo caminho numa próxima vez, abrindo assim cada vez mais a trilha, o que induzirá outros a seguí-la também. Assim, é o caminhar que abre o caminho mas, por outro lado, a existência da trilha já aberta leva a que habitualmente se ande por ela. Nada impede, porém, que, na medida em que tenha interesse nisso, o caminhante possa desviar-se do caminho já feito e nem que, em seguida, por [fim da página 198] comodidade, digamos, volte a ele. A tendência "natural" é de sempre trilhar os caminhos já abertos. Assim, as práticas, ou melhor, o modo das práticas tende a ser repetido, transposto a novos campos de atividade, criando rotinas que, utilizando o vocabulário da informática, poderíamos chamar "default" (6), isto é, que são utilizadas "automaticamente" cada vez que não há um "comando" em contrário. Cabe sempre, porém, ao indivíduo, segundo seus interesses, a possibilidade de ativar outros "comandos", mesmo que em contradição com aqueles consagrados pelo habitus, desde que dentro das alternativas que lhe permitam os limites da estrutura das relações sociais nas quais está inserido e da posição que nela ocupa. O habitus seria então umas espécie de comportamento "default", inconsciente e por isso tomado como "natural", socialmente criado e reproduzido pela própria prática, e interiorizado por cada indivíduo de determinada cultura ou determinado grupo social, que assim tende a repetir em diversos domínios da prática os mesmos esquemas que emprega em outros desde que não haja motivo (interesse) para fazer diferente. É isto que produz uma correspondência formal, ou um mesmo "estilo", entre diversos aspectos das práticas e diversos produtos simbólicos numa dada cultura e portanto a aparência de que existe uma única lógica anterior, subjacente e determinante dessas práticas. Mas é isto também que explica as aparentes incoerências e contradições que mesmo o pesquisador estruturalista, se atento, acabará por encontrar.
A "lógica" das práticas, segundo Bourdieu, é movida pela incerteza, tentativas, opções estratégicas a partir de interesses dos indivíduos ou grupos que as desempenham - dentro dos limites permitidos pelas relações sociais estruturais em que estão inseridos e de sua posição nelas - podendo portanto, tomar caminhos contrários, sucessivamente, cada vez que esses interesses o exigem. Os diferentes elementos e alternativas com que se confronta a prática não estão no mesmo tempo nem no mesmo espaço e assim nunca se confrontam diretamente entre si. Por isso, diferentes comportamentos ou ações podem ser praticamente compatíveis mesmo que ao observador pareçam logicamente incompatíveis ou incoerentes e, de certa forma, o sejam.
A crítica de Bourdieu ao estruturalismo antropológico se dirige, portanto, fundamentalmente "menos ao método em si do que às teses antropológicas que nele estavam tacitamente colocadas"(Bourdieu,1980:22) e ao "panlogismo", a suposta presença de uma mesma lógica perfeitamente coerente, originada na natureza do espírito humano, e realizada em todos os aspectos da vida social, determinando-a, e que, se não está exatamente assim colocada pelo próprio Lévi-Strauss, é "sem nenhuma dúvida parte integrante da imagem social do estruturalismo e de seus efeitos sociais "(Bourdieu, 1980: 22, nota 17). Seu desacordo se dá não quanto à existência das relações e estruturas que o estruturalismo postula, mas sim quanto à natureza ou naturalidade que os estruturalistas lhes atribuem. Bourdieu critica ainda a conseqüência dessa concepção no procedimento metodológico que consiste em desprezar na análise todo fato [fim da página 199] encontrado na realidade pesquisada que não se possa integrar de maneira lógica a um sistema perfeitamente coerente, deixando assim de ver aquilo em que consiste a verdadeira lógica da prática social.
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Já a crítica de Bourdieu diretamente ao estruturalismo lingüístico de Saussure e Chomsky e, evidentemente, a todos os cientistas sociais ou analistas da arte e da literatura que se inspiram nele, tem um outro matiz e pode ser encontrada principalmente na introdução e na primeira parte de A economia das trocas lingüísticas (1996b), além de surgir também em vários de seus outros textos. Essa crítica centra-se mais no fato de que seus autores tratam a língua, o opus operatum, dissociado do modus operandi, isto é, da fala, de suas condições sociais de produção, de reprodução e de utilização, da posição social de quem fala, ignorando-se o fato de que "as trocas lingüísticas - relações de comunicação por excelência - são também relações de poder simbólico onde se atualizam as relações de força entre os locutores ou seus respectivos grupos" (1996 b: 24). Tal procedimento resulta, então, numa "naturalização" da língua e dos demais objetos simbólicos - todos eles, na verdade, produtos históricos das relações sociais - na medida em que as demais ciências sociais acolhem esse "cavalo de Tróia" que é o método de análise saussuriano.
Para Bourdieu, é a própria intenção fundamental dos lingüistas estruturais que não é aceitável, pois ao autonomizar o estudo da língua, enquanto estrutura gramaticalmente apreendida, de seu uso concreto por atores ou falantes e ouvintes reais, inseridos em relações sociais e de poder reais, já a própria língua e os sentidos que carrega reduzem-se a um objeto mutilado de algo essencial, pois:
"a palavra que serve para tudo encontrada no dicionário não tem nenhuma existência social: na prática ela só existe imersa em situações, a ponto de o núcleo de sentido que se mantém relativamente invariável através da diversidade dos mercados poder passar despercebido", e "o mercado contribui para formar não só o valor simbólico, mas também o sentido do discurso." (1996 b: 25)
Em resumo, a crítica de Bourdieu à lingüística estrutural, que se estende também a toda tentativa de analisar um produto simbólico nele mesmo - sem referência às relações sociais em que se produz, se usa e se reproduz - é que ela ignora algo de essencial à sua compreensão: o fato de que as palavras e as próprias relações sintáticas, essencialmente um sistema destinado à comunicação de sentidos, só adquirem seu pleno sentido ou seus sentidos reais em cada caso de uso por agentes sociais inseridos em determinada posição no campo social a que pertencem, dependendo justamente das relações sociais que estruturam esse campo e da posição estrutural do agente que fala e de quem ouve. A crítica de Bourdieu a esse estruturalismo é, podemos dizer, uma crítica, a seu próprio modo, estruturalista.
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A partir de tudo o que pudemos ler de Pierre Bourdieu, emerge a conclusão de que sua crítica aos estruturalistas não é uma crítica ao estruturalismo tomado genericamente e sim, sempre, uma discussão muito precisa com cada escola estruturalista em determinados domínios científicos e, parece-nos, não se dirige contra a centralidade da noção de estrutura nas teorias criticadas, mas sim, pelo contrário, à uma como que insuficiência na consideração das estruturas [fim da página 200] por parte dessas correntes, seja insuficiência ou equívoco na compreensão da natureza e da gênese dessas estruturas, seja insuficiência no estabelecimento das relações, também estruturais, das estruturas estudadas com outro tipo de estruturas, as estruturas sociais e de poder. Assim, parece-nos que cabe perguntar se não seria Bourdieu um "estruturalista a seu modo" e se suas insistentes críticas aos outros estruturalistas na área das ciências sociais não seriam parte de uma "disputa fraterna", uma discussão no interior do próprio estruturalismo entendido na maneira ampla em que o coloca Piaget e que referimos na primeira parte deste trabalho.
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BOURDIEU, ESTRUTURALISTA A SEU MODO
Parece indubitável que a noção de estrutura seja central na teoria sociológica e nos procedimentos metodológicos de Pierre Bourdieu. Em muitos de seus textos é mesmo difícil não se deparar com as expressões "estrutura, "estruturado", "estruturante", "estrutural" a cada parágrafo. Resta porém verificar se por trás destas palavras encontra-se efetivamente a noção que caracterizaria realmente uma postura estruturalista.
Se tomarmos como referência a definição geral de estruturalismo proposta por Jean Piaget (1979), ou seja, a atitude científica que busca a inteligibilidade do real na descoberta de suas estruturas, ou da rede de relações mais ou menos permanentes que o compõem e de suas leis de transformação, parece-nos que o próprio Bourdieu nos dá uma resposta clara quando diz que o objetivo da sociologia é "descobrir as mais profundas estruturas dos vários mundos sociais que constituem o universo social, assim como o 'mecanismo' que tende a garantir sua reprodução ou sua transformação" (1989 a: 7) (7).
O que são os conceitos chaves da teoria de Bourdieu, o conceito de campo e o conceito de habitus, senão estruturas com as características apontadas por Piaget, tomadas como totalidades?:
  • que têm propriedades distintas daquelas que têm os elementos que as compõem, que se mantêm como tal por força dos "mecanismos" ou leis, ou ainda das regras do jogo específico de cada campo, na linguagem do próprio Bourdieu, que regem as relações entre seus componentes, que põem limites ou fronteiras aos movimentos possíveis em seu interior,
  • que consistem em sistemas de transformações, sendo ambos estruturados e estruturantes, constantemente em movimento em função da luta que se desenvolve no interior de cada campo, em que o habitus ao mesmo tempo serve e se submete aos interesses e estratégias individuais dos agentes concretos e, por outro lado, assegura que os movimentos individuais se mantenham dentro das regras inconscientes próprias do campo a que pertencem e que reproduzam a estrutura desse campo;
  • que por um processo de auto-regulação, tão bem descrito por Bourdieu, por exemplo, em "O campo científico" (1983 b), garante sua reprodução e conservação sem impedir o movimento e a transformação.
[fim da página 201] 
Lendo-se atentamente as obras de Bourdieu, pode-se mesmo encontrar ali, como Henri Lefebvre acreditou ter encontrado em Marx, alguma coisa das três concepções de estrutura que Lefebvre identificava:
  • a estrutura como imanente ao real, como aquilo que, no real, é inteligível, já que os campos sociais e habitus são estruturas realmente existentes, independentes da consciência e da vontade dos indivíduos e é a sua revelação que permite compreender os movimentos da vida social e o comportamento dos indivíduos.
  • a estrutura como um modelo, construído pelo teórico, do qual Bourdieu fala extensamente em Le Sens Pratique (1980) e que ele considera como o primeiro passo necessário do procedimento científico - que ele chama de modo de conhecer objetivista - que permite romper com o conhecimento primário - que ele chama modo fenomenológico de conhecer - e que substitui a tarefa, para ele impossível, de reproduzir a experiência primária que têm os atores da vida social pela construção de uma esquema que descreve as relações e conexões que se podem observar sem experimentar. (Bourdieu, 1980; 1983 a) A mesma idéia da estrutura como construção do pesquisador parece-nos implícita na referência de Bourdieu a "uma das tentações do ofício de sociólogo (...) isto é, de transformar as leis ou regularidades históricas em leis eternas" (Bourdieu, 1983d:75)
  • a estrutura como um equilíbrio precário entre múltiplas hierarquias que estão em constante movimento e que, portanto, é um equilíbrio que se tem que refazer continuamente, num processo de auto-regulação, isto é, uma concepção dialética da estrutura que parece-nos ser aquela que melhor caracteriza o pensamento e a prática científica de Bourdieu, marcados justamente pela análise das lutas que se desenrolam no interior de cada campo social e da dialética entre relações objetivas de poder, habitus e interesses individuais.
É importante ainda frisar a importância que Bourdieu atribui à noção de estrutura, sobretudo no primeiro e no terceiro sentido que acabamos de referir, na resolução do fundamental problema da Sociologia: o da relação entre indivíduo e sociedade. Para Bourdieu, num dado campo de forças sociais (que é sempre estruturado e estruturante), as possibilidades de luta e êxito de cada agente estão dadas pela posição que ocupa em cada momento no espaço social estruturado, vale dizer, pelo capital total (material, simbólico e social) que detém e pela estrutura desse capital, mas também pelo "campo dos possíveis" que se lhe apresenta, de seu ponto de vista, a partir da posição em que se situa. A avaliação dessas condições, da qual depende a definição de estratégias e táticas de ação de cada ator dentro do campo, é feita pelo próprio agente - implicando sempre a possibilidade de erro de avaliação - e é ela que determina sua decisão de submeter-se ao estado de coisas ou de lutar, de tal modo que há uma intervenção de uma liberdade do agente individual ou de um grupo no processo de conservação ou de transformação do jogo de forças do campo social em que se situa e do próprio campo enquanto estrutura (estruturada). A própria conservação do estado de coisas num dado campo social é produto de uma dinâmica onde os sujeitos intervêm, e não resultado de pura inércia, pois resulta [fim da página 202] de uma ação (ou reação), pelo menos reiterativa do estado de coisas, efetuada pelos próprios atores que compõem o campo segundo a interpretação que fazem do seu "campo de possíveis" e segundo seus próprios interesses individuais e grupais. Assim, não há contradição entre a noção de estrutura como algo objetivamente existente e a noção da intervenção, até certo ponto, arbitrária do sujeito . A realidade social é estruturada e estruturante, sem que isso retire dos indivíduos ou dos grupos a possibilidade de arbítrio. Todo agente social é um sujeito estruturado externamente, (no sentido de que tem que contar com os limites e as possibilidades que lhe são dados pela posição efetiva que ocupa na estrutura objetiva do campo) e estruturado internamente (pela mediação do habitus), mas que é ele também, ou melhor, sua prática, estruturante do campo social e do habitus (Bourdieu, 1983, 1992; Bourdieu & St. Martin, 1982).
Enfim, como bem o notou Loesberg (1993), todo o trabalho de pesquisa de Pierre Bourdieu parece consistir em examinar relações, identificar redes de relações constantes, e relações entre essas redes de relações, as leis ou "mecanismos" que regem essas relações, abordando dessa maneira os mais variados campos da vida social, inclusive aqueles antes pouco usuais ou totalmente inusitados para a sociologia, como o mundo da moda ou o dos esportes. O que faz ele senão empregar aquilo que considerou como a contribuição fundamental do estruturalismo antropológico para as ciências sociais:
"o método estrutural ou, mais simplesmente, o modo relacional de pensar que, rompendo com o modo de pensar substancialista, leva a caracterizar cada elemento pelas relações que o unem a outros elementos em um sistema, do qual toma seu sentido e sua função" (Bourdieu,1980:11) ?
Parece-nos, ainda, que a "teoria da prática" de Bourdieu, tal como a expõe em Le Sens Pratique, é a sua resposta, no âmbito da sociologia, àquela questão que Piaget colocava como o problema central de todos os estruturalismos: "são as totalidades por composição sempre compostas, mas como ou por quem, ou estiveram antes de tudo (e estão sempre?) em vias de composição?" (Piaget, 1979: 11).
Podemos, pois, certamente situar Bourdieu no estruturalismo, tomado em sentido amplo, e, talvez, qualificá-lo mais precisamente como "estruturalista dialético" segundo o terceiro sentido dado por Henri Lefebvre à noção de estrutura.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BOURDIEU, Pierre. (1980). Le sens pratique. Paris: Éditions de Minuit.
_______________. (1983 a). Esboço de uma teoria da prática. In: ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática.
_______________. (1983 b). O campo científico. In: ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática.
_______________. (1983 c). A economia das trocas lingüísticas. In: ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu. São Paulo: Ática.
_______________. (1983 d). Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero.
_______________. (1989 a). La noblesse d'Etat. Grands corps et Grandes Ecoles. Paris: Éditions de Minuit.
_______________. (1989 b). O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
_______________. (1992). A economia das trocas simbólicas. 3ª ed. São Paulo: Perspectiva.
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[fim da página 203] 

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NOTAS

1) Pedagoga, Mestre em Sociologia pelo PPGS-UFPb (Campus I - João Pessoa).
2) O original alemão foi publicado em 1959.
3) Tradução nossa, assim como de todos os demais trechos do mesmo livro aqui citados.
4) Da etnia kabyla, povo de origem berbere que vive principalmente nas montanhas Atlas do norte da Argélia.
5) Esta tentativa de explicar a teoria de Bourdieu através da metáfora dos caminhos é nossa, e não dele, e, como toda comparação, claudica.
6) O conceito de "default" para explicar práticas humanas foi utilizado por P. Johnson-Laird na sua "teoria dos modelos mentais" para caracterizar um certo número de operações cognitivas que, por um lado, parecem funcionar como deduções lógicas mas, por outro lado, são mais rápidas e menos rigorosas do que aquelas (Jonhson-Laird, 1983).
7) Tradução e grifo nossos.
RESUMO
PIERRE BOURDIEU E O ESTRUTURALISMO


Este artigo trata da relação entre a sociologia de Pierre Bourdieu e o estruturalismo, ou estruturalismos, dada a importância que tem a noção de estrutura no pensamento desse autor, por um lado, e, por outro lado, a importância que teve a sua crítica ao estruturalismo ao estruturalismo antropo-lógico de Lévi-Strauss na elaboração de sua teoria da prática. Para fazê-lo, a autora começa por rever o significado ou significados dos termos estrutura e estruturalismo, tomando como base textos de Jean Piaget, Wolfgang Wieser e Henri Lefebvre, e termina por concluir que Bourdieu é um "estruturalista a seu modo".
PALAVRAS-CHAVE: Pierre Bourdieu; estruturalismo; Sociologia.

RESUMÉ
PIERRE BOURDIEU ET LE STRUCTURALISME


Cet article analyse les rapports entre la sociologie de Pierre Bourdieu et le structuralisme ou les structuralismes, étant donnée, d'un coté, l'importance de la notion de structure dans la pensée de cet auteur et, d'un autre coté, l'importance de sa critique au structuralisme antropologique de Lévi-Strauss dans l'élaboration de sa théorie de la practique. Pour baser son analyse, l'auteur commence par une revision du sens des termes structure et structuralisme basée sur des textes de Jean Piaget, Wolfgang Wieser et Henri Lefebvre, et fini par arriver à la conclusion que Bourdieu est un "structuraliste à sa façon".
MOTS-CLEFS: Pierre Bourdieu; structuralisme; Sociologie.