
No processo predatório educativo da
contemporaneidade e em face do advento da
hipermodernidade, onde se estabelece de maneira cabal e determinante os
paradigmas e pressupostos da nova ordem estrutural, há o ruir quedante e
fragmentado dos alicerces rígidos e falsamente sedimentado da racionalidade
educativa, bem como, da tentativa pretensiosa de tornar adulto o homem por meio
da razão.
No fracasso uníssono de compreensão da
pesssoa humana e sua cupidez na elaboração do que tanto prometera, a razão,
agora deusa destronada, assiste da platéia o irrompe da nova ordem educacional
de individualização, pluralização das sociedades, privatização da família e da
religião e ainda a onipresença do mercado.
Dentre as várias ideologias formadas
para formar o sujeito, o neopentecostalismo é o resultado sistemático e reverso
do projeto da luz racional patrocinado perniciosamente pelo neoliberalismo, em
que foi estabelecida uma relação pessoal de verticalidade com o sagrado e total
anulação das relações de alteridade e altruísmo.
É estabelecido pela Teologia do Domínio,
que Deus é o portador da benção e o diabo é o causador dos males existentes no
mundo, travando assim uma guerra espiritual. Para promover a verdadeira
libertação das influências do diabo se faz necessário um ritual realizado pelos
lideres religiosos. Ritual este realizado de forma espetacular onde o demônio é
achincalhado e acusado de todos os males causados as pessoas e ao mundo, é
expulso em meio à platéia sedenta de show, bazófia e olhos adestrados para o
espetáculo que aplaude e glorifica a Deus celebrando a síncope do mal.
Instrumentalizados pela estética e
mecanismos neopentecostais, o desamparo, a condição mais primitiva e necessária
do homem é negado e justificado em nome da lógica da negociata mercadológica
daquela que promete religar o homem a Deus e sua benção. Entretanto, o
desamparo é a marca da condição faltante do sujeito, que é longamente
justificada e jamais consideramos como inerentes a natureza humana e implicados
nos percalços de seus desejos. A culpa do que acontece de sofrimento é ação das
forças demoníacas e é somente Deus que sujeito encontrará possibilidade de gozo
na sua totalidade e inteireza.
O incentivo e o sucesso, bem estar e
repúdio a todo tipo de sofrimento é uma constante onde o sujeito é convidado a
tomar posse da benção divina. A nova ordem é garantida pela Teologia da
Prosperidade que indica toda sorte de bênçãos e firma-se um pacto, um contrato,
mantendo-se fiel, pagando o dízimo a benção é garantida, caso isso não aconteça
é necessário mais fé na sustentação da responsabilidade do contrato aja visto
que o fiel, sujeito contratante, não possui ainda uma fé vitoriosa para
alcançar tal benção.
É super valorizado de forma insinuante
por parte do líder religioso neopentecostal o prazer hedonista e efêmero, numa
relação frugal que se dá quando afirma categoricamente fundamentado e
sustentado pela lógica hiper-moderna, que o que é importante é a pessoa e sua
relação com Deus, descaracterizando assim o sentido religioso de outrora que é
a possibilidade de dialogo e convívio sócio comunitário de convívio e comunhão.
A religião que tem como missão educar e
aproximar as pessoas de Deus, religá-las ao sagrado, favorecer possibilidade de
igualdade e fraternidade, sendo a preconização do paraíso e modelo de justiça,
acaba por tornar-se um grande instrumento de alienação que aprisiona e motiva
de forma legitimada pelo discurso religioso, tal disparate e tirania.
Como é possível educar o cidadão em meio
às problemáticas apresentadas em seu sentido mais original (latim), “educare”, tirar de dentro? Até que ponto
somos capazes de perceber as nuances e vicissitudes presente em nosso
quotidiano?
Por Edvaldo Sant`Ana Lourenço