15/07/2014

Educação, Religião, Mercado e Subjetivação

A educação no tempo presente tem trilhado vários caminhos, superado inúmeros percalços e incongruências para encontrar a maneira mais adequada a fim de formar e preparar o cidadão para a vida. Com isso tem avançado enormemente na pratica gestora, mas por outro lado, não podemos negar o retrocesso histórico frente à abordagem democrática educativa de crianças e adolescentes, seja por meio da formação midiática totalitária ou pela moralidade estéril pregada por correntes ideológicas que não emancipa, mas faz retroceder o humano.

No processo predatório educativo da contemporaneidade e em face do advento da hipermodernidade, onde se estabelece de maneira cabal e determinante os paradigmas e pressupostos da nova ordem estrutural, há o ruir quedante e fragmentado dos alicerces rígidos e falsamente sedimentado da racionalidade educativa, bem como, da tentativa pretensiosa de tornar adulto o homem por meio da razão.
No fracasso uníssono de compreensão da pesssoa humana e sua cupidez na elaboração do que tanto prometera, a razão, agora deusa destronada, assiste da platéia o irrompe da nova ordem educacional de individualização, pluralização das sociedades, privatização da família e da religião e ainda a onipresença do mercado.

Dentre as várias ideologias formadas para formar o sujeito, o neopentecostalismo é o resultado sistemático e reverso do projeto da luz racional patrocinado perniciosamente pelo neoliberalismo, em que foi estabelecida uma relação pessoal de verticalidade com o sagrado e total anulação das relações de alteridade e altruísmo.
É estabelecido pela Teologia do Domínio, que Deus é o portador da benção e o diabo é o causador dos males existentes no mundo, travando assim uma guerra espiritual. Para promover a verdadeira libertação das influências do diabo se faz necessário um ritual realizado pelos lideres religiosos. Ritual este realizado de forma espetacular onde o demônio é achincalhado e acusado de todos os males causados as pessoas e ao mundo, é expulso em meio à platéia sedenta de show, bazófia e olhos adestrados para o espetáculo que aplaude e glorifica a Deus celebrando a síncope do mal.

Instrumentalizados pela estética e mecanismos neopentecostais, o desamparo, a condição mais primitiva e necessária do homem é negado e justificado em nome da lógica da negociata mercadológica daquela que promete religar o homem a Deus e sua benção. Entretanto, o desamparo é a marca da condição faltante do sujeito, que é longamente justificada e jamais consideramos como inerentes a natureza humana e implicados nos percalços de seus desejos. A culpa do que acontece de sofrimento é ação das forças demoníacas e é somente Deus que sujeito encontrará possibilidade de gozo na sua totalidade e inteireza.

O incentivo e o sucesso, bem estar e repúdio a todo tipo de sofrimento é uma constante onde o sujeito é convidado a tomar posse da benção divina. A nova ordem é garantida pela Teologia da Prosperidade que indica toda sorte de bênçãos e firma-se um pacto, um contrato, mantendo-se fiel, pagando o dízimo a benção é garantida, caso isso não aconteça é necessário mais fé na sustentação da responsabilidade do contrato aja visto que o fiel, sujeito contratante, não possui ainda uma fé vitoriosa para alcançar tal benção.
É super valorizado de forma insinuante por parte do líder religioso neopentecostal o prazer hedonista e efêmero, numa relação frugal que se dá quando afirma categoricamente fundamentado e sustentado pela lógica hiper-moderna, que o que é importante é a pessoa e sua relação com Deus, descaracterizando assim o sentido religioso de outrora que é a possibilidade de dialogo e convívio sócio comunitário de convívio e comunhão.

A religião que tem como missão educar e aproximar as pessoas de Deus, religá-las ao sagrado, favorecer possibilidade de igualdade e fraternidade, sendo a preconização do paraíso e modelo de justiça, acaba por tornar-se um grande instrumento de alienação que aprisiona e motiva de forma legitimada pelo discurso religioso, tal disparate e tirania.

Como é possível educar o cidadão em meio às problemáticas apresentadas em seu sentido mais original (latim), “educare”, tirar de dentro? Até que ponto somos capazes de perceber as nuances e vicissitudes presente em nosso quotidiano?

Por Edvaldo Sant`Ana Lourenço